terça-feira

O pessegueiro do meu quintal


"Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem"
(Hebreus 12:15).




Na minha infância, no quintal da minha casa, havia um pessegueiro. Era tão frondoso e convidativo que os meninos da vizinhança pulavam o muro em busca de seus frutos. Isso causava um imenso aborrecimento ao meu pai. Principalmente se, durante a colheita furtiva, algumas de nossas telhas ficassem quebradas. Então, para acabar com o problema, ele resolveu cortar a árvore e os meninos nunca mais voltaram.

Aqueles meninos travessos, porém, causaram um estrago muito maior do que poderiam imaginar. Com o pessegueiro também se foram os passarinhos, as abelhas, os pêssegos, as flores e a grande sombra. Foi assim que, pouco tempo depois, onde havia um lindo  quintal, construíram um quartinho para ser alugado.

Minha mãe fez uma grande panela de doce com todos os pêssegos que colheu e nossa vida prosseguiu. Os garotos nem suspeitaram de todo mal que nos causaram com aquelas invasões ao quintal, mas contribuíram para que a paisagem da nossa casa fosse irreversivelmente modificada.

Algumas pessoas nunca percebem o que estão fazendo de ruim para os outros, tampouco se arrependem de seus atos. A vida é assim. Enquanto durar este mundo, sempre existirão aqueles dispostos a acabar com a felicidade dos outros. E não precisam ser esforçar muito para que isso aconteça. Causar tristeza é bem mais fácil do que pular um puro, subir numa árvore ou danificar um telhado. Bastam apenas algumas palavras e pequenas atitudes para um grande estrago. Por isso Deus enfatiza tanto a necessidade de perdoarmos e sermos pacientes com aqueles que surgem para nos prejudicar.

Em nossa caminhada por este mundo, será inevitável que, de vez em quando, encontremos pessoas querendo invadir nosso espaço para roubar alguns pêssegos e causar terríveis goteiras. Sempre que isso acontecer, respire fundo, conserte o telhado e tenha em mente que a alegria se renova.

Se o seu coração for paciente e perdoador, ninguém neste mundo, por mais que se esforce, conseguirá fazê-lo perder todos os seus frutos, suas flores e sua grande sombra. Não desista de sua colheita por causa da maldade de pessoas que adoeceram há muito tempo e não se deram conta disso. Não importa o que lhe façam, nunca corte o seu pé de pêssego. Viva a sua vida sem perder as flores que enfeitam, a brisa que refresca e os frutos que adoçam seu paladar.

Se, se por algum motivo, sua bela árvore deixar de existir, plante outra exatamente igual e espere pelo tempo da colheita. Aconteça o que acontecer, em momento algum, jamais se torne uma pessoa amarga e infeliz.

quinta-feira

O tempo oportuno



"Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno" (Hb4.16).





Quando eu entrei no quarto, encontrei meu filho de oito chorando baixinho, escondidinho, encolhido, como se não quisesse que ninguém descobrisse o motivo secreto de sua tristeza. Percebi que era um choro com muitas lágrimas, diferente daqueles que ocorrem quando ele está fazendo pirraça após ser contrariado ou fica de castigo. Era um choro sofrido, não por uma dor física, mas por um sofrimento que vinha de dentro. Perguntei-lhe imediatamente o que estava acontecendo e, com muita relutância, ele me confessou que havia perdido o seu álbum de figurinhas da Copa.

Uma vez, uma amiga me disse que as crianças são adultos em miniatura e que seus sentimentos não são diferentes dos nossos - embora os motivos que eles tenham para sofrer pareçam sempre bobos para nós, que somos gente grande. Sendo assim, meu garoto deveria estar com a mesma sensação de perda e frustração que eu teria se, por exemplo, tivessem me roubado este computador onde eu escrevo os posts deste blog.

Se considerarmos que ele ainda teria que enfrentar a bronca do meu marido que patrocinou a compra de todas as figurinhas, eu diria que o menininho estava mesmo com motivos para chorar copiosamente. Aquele reles álbum de papel, quando estiver completo, vai ter custado uns R$100,00 aos bolsos do seu papai (ainda que esteja destinado ao eterno abandono em um canto do armário assim que a competição acabar).

Seu rosto se desanuviou quando eu lhe expliquei que o álbum estava no alto da estante, onde eu o coloquei a salvo até a chegada de novas figurinhas. Ele pegou a encadernação colorida e frágil com uma alegria proporcional ao desespero dos segundos anteriores. O tempo inteiro o álbum estava protegido, guardado em segurança, até o momento de voltar para suas mãos.

Depois que ele foi para a escola, fiquei pensando no episódio. Quantas vezes nós, os adultos (que somos crianças em tamanho gigante), sofremos inutilmente por querermos coisas que estão sob os cuidados de Deus e voltarão para nós somente quando chegar o tempo oportuno?

sábado

A urgência era apenas uma florzinha azul

















Neste exato momento, há um número incontável de coisas maravilhosas acontecendo neste planeta. Existem crianças nascendo, anjos cantando e gente sorrindo. É uma pena que não haja tanto espaço nos jornais para registrar as alegrias como existe para as tristezas. Sei que há muito mais risos do que lágrimas no mundo, mas a felicidade não dá pontos no Ibope. É por isso existe tão pouca alegria nos noticiários.

Nunca me esqueci de uma passagem que li no livro O Grande Abismo, do C.S. Lewis. No Paraíso, uma das personagens vê uma fenda pequenininha no meio do gramado de um jardim e diz para outra: "O Inferno fica ali".

O Bem é infinitamente maior do que o Mal. A tristeza cabe dentro da alegria. Há muito mais coisas boas acontecendo em nosso mundo do que infelicidades. Se houvesse um gigantesco placar no Universo, haveria um registro em tempo real de que Deus está ganhando de goleada. Porque não existe o "Lado Negro da Força". Só existe um Deus e Ele está trabalhando até agora (João 5:17); todas as coisas cooperam para o bem dos que O amam (Romanos 8:28), porque Ele é recompensador daqueles que O buscam (Hebreus 11.6).

Ontem, quando estava muito ocupada, meu filho começou a me chamar de forma insistente e pediu que eu largasse tudo o que estava fazendo imediatamente. Ele queria me "mostrar uma coisa". Como disse que era urgente, corri para o pequeno gramado que temos em frente da casa, já certa de que ele poderia ter encontrado uma aranha enorme ou uma cobra (descobertas muito comuns onde vivo). Quando cheguei ao local, ele abriu um sorrisão e me mostrou a primeira florzinha que tinha nascido na planta trepadeira que compramos. A urgência muito urgente e urgentíssima era apenas uma florzinha azul.

Voltei aos meus afazeres pensando em como nós brasileiros somos felizes a maior parte do tempo e nem notamos - porque estamos concentrados em todo o Mal que chega via satélite, em cores e sinal digital. Penso que a maioria das pessoas passaria pela vida em completa e absurda felicidade se não tivesse acesso aos noticiários. Mas é exatamente o contrário do que acontece. Queremos ser bem informados e pagamos um alto preço por isso.

Nunca me esquecerei de uma cena muito comum na minha infância: a TV ligada, a família comendo e a guerra entrando na paz da gente.

Já que não podemos mudar o mundo, pelos menos, vamos olhar mais vezes para as coisas felizes que também estão acontecendo no planeta. Vamos ler o caderno B da vida.

AS FORMIGUINHAS DO AÇÚCAR

     “Há caminhos que parecem certos, mas podem acabar levando para a morte ” (Provérbios 14:12).     Deixei a caneca on...